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Fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado morre aos 81 anos e deixa legado monumental

Fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado morre aos 81 anos e deixa legado monumental

SÃO PAULO — O fotógrafo e ambientalista brasileiro Sebastião Salgado, conhecido por suas premiadas imagens da natureza e da humanidade, morreu aos 81 anos de leucemia, informou sua família na sexta-feira. A mídia local noticiou que ele morreu em Paris, onde viveu por mais de 55 anos.

O estilo de Salgado é marcado por imagens em preto e branco, tons ricos e cenários carregados de emoção. Muitas de suas melhores fotos foram tiradas em comunidades carentes, especialmente na Amazônia e na África. Ele vinha enfrentando problemas de saúde não revelados recentemente.

“Através das lentes de sua câmera, Sebastião lutou incansavelmente por um mundo mais justo, humano e ecológico”, disse a família de Salgado em um comunicado.

“Como fotógrafo que viajava o mundo continuamente, ele contraiu uma forma específica de malária em 2010 na Indonésia, enquanto trabalhava em seu projeto Genesis. Quinze anos depois, as complicações dessa doença evoluíram para uma leucemia grave, que acabou lhe custando a vida”, acrescentou a família.

Anteriormente, o Instituto Terra, fundado por Salgado e sua esposa Lélia Wanick Salgado, e a Academia Francesa de Belas Artes, da qual ele era membro, anunciaram sua morte, mas não forneceram detalhes sobre as circunstâncias ou onde ele morreu.

“Sebastião foi mais do que um dos melhores fotógrafos do nosso tempo”, afirmou o Instituto Terra em um comunicado. “Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, (trouxe) o poder da ação transformadora.”

O compositor Laurent Petitgirard, secretário da Academia Francesa de Belas Artes, disse em um comunicado que Salgado, um de seus colegas, era “notável por sua integridade moral, seu carisma e seu compromisso em servir à arte”.

"Ele deixa uma obra monumental", disse Petitgirard sobre um fotógrafo que recebeu muitos prêmios e foi eleito membro honorário da Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos em 1992 e da Academia Francesa de Belas Artes em 2016.

Os principais trabalhos de Salgado incluem a recente série “Amazônia”, “Trabalhadores”, que mostra o trabalho manual ao redor do mundo, e “Êxodo” (também conhecido como “Migrações” ou “Sahel”), que documenta pessoas em trânsito, incluindo refugiados e moradores de favelas.

Salgado teve sua vida e obra retratadas no documentário "O Sal da Terra" (2014), codirigido por Wim Wenders e seu filho, Juliano Ribeiro Salgado. O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2015.

Um dos artistas mais famosos do Brasil , porém, sempre insistiu que era “apenas um fotógrafo”.

Salgado mudou-se para a França em 1969, durante uma ditadura militar no Brasil. Ele afirmou em diversas entrevistas que era um militante de esquerda contra o regime.

Foi em Paris, em 1973, que ele começou a se dedicar integralmente à fotografia e a desenvolver seu estilo em preto e branco, anos depois de se formar em economia.

Seus primeiros trabalhos profissionais foram para a agência Sygma, em 1974. No ano seguinte, documentou a vida de camponeses e povos indígenas na América Latina para a agência Gamma. Cinco anos depois, ingressou na Magnum, uma marca líder em fotografia, da qual se tornou presidente.

Salgado deixou a empresa em 1994 para fundar com sua esposa a Amazonia Images, uma agência que cuida exclusivamente de seu trabalho.

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva , que recebeu apoio de Salgado ao longo de sua carreira política, pediu um minuto de silêncio durante uma cerimônia na capital Brasília para homenagear “um dos maiores, se não o maior, fotógrafo que o mundo já produziu”.

“Seu inconformismo com a desigualdade mundial e seu talento incansável para retratar a realidade dos oprimidos sempre serviram como um alerta para a consciência de toda a humanidade”, disse Lula. “Salgado não usou apenas os olhos e a câmera para retratar pessoas: ele também usou a plenitude de sua alma e de seu coração.”

O presidente francês Emmanuel Macron postou uma foto de Salgado no Alasca em seu perfil do Instagram como uma homenagem ao fotógrafo, que também tinha cidadania francesa.

Salgado e sua esposa, com quem se casou em 1967, criaram seus dois filhos, Juliano e Rodrigo, na França. Seus amigos diziam todas as manhãs que ele poderia respirar o ar perto do Canal Saint-Martin, em Paris. Sua morte também causou comoção no país que ele adotou.

François-Bernard Mâche, um importante compositor francês que trabalhou com Salgado em sua exposição “Aqua Mater” em Paris, disse que o brasileiro era um “homem autêntico e caloroso”.

“Seu olhar transformava paisagens e, além do espetacular, ele alcançava uma espécie de verdade interior (...). Com ele, a fotografia realizou uma de suas maiores ambições, indo muito além das meras aparências”, disse Mâche à Associated Press.

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, disse que Salgado era apaixonado pela cidade.

“Esta noite choro por um amigo muito próximo, uma alma rara; um homem leal, discreto e sensato. Sua morte nos comove profundamente. Ele já nos deixa um imenso vazio”, disse Hidalgo. “Paris, a cidade que o amou, lhe dará as honras que ele merece.”

Uma exposição com cerca de 400 obras de Salgado está atualmente em cartaz na cidade de Deauville, no norte da França.

O jornal brasileiro Folha de S. Paulo, que publicou diversas obras de Salgado nas últimas décadas, informou que ele cancelou recentemente um encontro com jornalistas na cidade francesa de Reims devido a problemas de saúde. Ele deveria comparecer a uma exposição com obras de seu filho Rodrigo para uma igreja na mesma cidade no sábado, informou o jornal.

Salgado e sua esposa trabalhavam desde a década de 1990 na restauração de parte da Mata Atlântica em Minas Gerais. Em 1998, transformaram um terreno de sua propriedade em reserva natural, segundo a biografia de Salgado no site da Academia Francesa de Belas Artes. No mesmo ano, criaram o Instituto Terra, que promove o reflorestamento e a educação ambiental.

Até o momento, o Instituto Terra plantou mais de 3 milhões de árvores na cidade de Aimorés, que fica em uma região outrora desértica no interior de Minas Gerais. O fotógrafo nasceu lá em 1944.

Em entrevista sem data à Forbes Brasil publicada na quinta-feira, Salgado disse que assistir à exposição de suas obras em Deuville foi como um passeio pela vida.

“Quantas vezes na minha vida deixei minha câmera de lado e sentei para chorar? Às vezes era dramático demais, e eu estava sozinha. Esse é o poder do fotógrafo: conseguir estar presente”, disse Salgado.

“Se não houver um fotógrafo, não há imagem. Precisamos estar lá. Nos expomos muito. E é por isso que é um privilégio tão imenso.”

___ Os escritores da Associated Press Eléonore Hughes no Rio de Janeiro e John Leicester em Paris contribuíram.

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Acompanhe a cobertura da AP sobre a América Latina e o Caribe em https://apnews.com/hub/latin-america

ABC News

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