Comer sozinho em restaurantes: o que isso pode dizer sobre você

Comer sozinho em um restaurante pode parecer, à primeira vista, um ato simples. Mas, segundo Leninha Wagner — PhD em neurociências, doutora em psicologia, mestre em psicanálise e perita judicial em psicologia —, essa escolha diz muito mais do que se imagina.
“Comer sozinho pode ser muito mais do que simplesmente alimentar-se sem companhia”, explica Leninha. Para algumas pessoas, trata-se de um momento de liberdade: escolher o que deseja comer, no próprio ritmo, sem sustentar conversas ou atender expectativas externas. “É quase um exercício de escuta interna — perceber o sabor, a textura, o cheiro, e até o próprio corpo sinalizando fome ou saciedade.”
No entanto, o mesmo cenário pode despertar sentimentos opostos em outras pessoas. “Sentar-se sozinha à mesa pode trazer um vazio incômodo. Não é o ato em si que machuca, mas o que ele simboliza: ausência de companhia, lembranças de isolamento ou a sensação de não pertencer”, pontua a especialista.

Segundo a psicóloga, quando isso se torna frequente e carrega um peso emocional negativo, pode refletir um modo de vida com conexões sociais enfraquecidas — o que afeta não apenas o humor, mas também os hábitos alimentares e o bem-estar geral.
A experiência, portanto, não é universal. “Comer sozinho não é, por natureza, algo negativo ou positivo. O que muda é o significado que a pessoa atribui àquele momento e como ele dialoga com a sua história afetiva.”

Outro fator relevante são as normas sociais. Em muitas culturas, o ato de comer ainda é visto como um ritual coletivo, de partilha. “Quem se senta sozinho muitas vezes percebe olhares, comentários ou até um atendimento mais frio. Não porque o ato seja errado, mas porque desafia uma expectativa coletiva silenciosa”, analisa.
Esse julgamento externo, mesmo sutil, pode gerar constrangimento. “Algumas pessoas evitam o restaurante para não passar por isso, outras aprendem a ocupar esse espaço com naturalidade, transformando-o em um momento de autocuidado.”
No fim das contas, segundo Leninha, a dificuldade está menos no olhar do outro e mais na forma como o indivíduo interpreta esse olhar. “Quando conseguimos ressignificar o ato de comer sozinhos, deixamos de viver o momento como um sinal de isolamento e passamos a enxergá-lo como uma escolha legítima — e, em muitos casos, saudável.”
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