O casamento bilionário que veio com uma ressaca de 100 jatos

• O casamento de Jeff Bezos em Veneza atraiu quase 100 jatos particulares, aumentando as preocupações sobre as emissões causadas pela elite.
• Jatos particulares produziram 19,5 milhões de toneladas métricas de CO₂ em 2023, com 55% disso atribuído a partidas nos EUA.
• Dezoito dos 20 aeroportos de jatos particulares mais poluentes estão nos EUA, impulsionados pelos hábitos de viagem de celebridades e bilionários.

Enquanto a maior parte do mundo discute sobre compensações de carbono e contas de energia, Jeff Bezos acaba de realizar um casamento que se tornou o evento climático mais absurdo do ano. Quase 100 jatos particulares teriam pousado em Veneza para celebrar o casamento do fundador da Amazon com Lauren Sánchez, tornando o evento um espetáculo de alta altitude em mais de um sentido.

Coincidentemente, ou melhor, perfeitamente, o Conselho Internacional de Transporte Limpo divulgou um relatório na mesma semana mostrando que bilionários americanos são agora responsáveis ​​por 55% das emissões de jatos particulares no mundo. Só em 2023, jatos particulares emitiram 19,5 milhões de toneladas métricas de gases de efeito estufa globalmente. Mais da metade disso veio de voos partindo dos Estados Unidos.

O Aeroporto Van Nuys, em Los Angeles, de onde muitos desses jatos provavelmente decolaram, é agora um dos centros de aviação privada mais poluentes do planeta. Voos curtos, com menos de duas horas de duração, como os que levaram celebridades para a festa de Bezos, são os piores infratores, pois consomem mais combustível por quilômetro e representam um terço da pegada de carbono da aviação. Não é de se admirar que o guerreiro ecológico Leonardo diCaprio tenha se apressado em esconder o rosto .

Os números são surreais. Os EUA foram responsáveis ​​por 65% de todos os voos de jatos particulares no ano passado. Só a Flórida e o Texas geraram mais tráfego do que toda a UE. A média dos EUA é de 687 voos de jatos particulares por 10.000 pessoas. Na França e no Reino Unido, é de cerca de 110.

A França tentou proibir voos domésticos curtos onde existem alternativas de trem, mas o impacto foi mínimo. Não há tal restrição nos EUA, onde os ultra-ricos voam livremente enquanto o resto do país enfrenta pressão para reduzir as emissões.

Mas isso não se aplica apenas a Bezos. O novo Gulfstream G700 de Mark Zuckerberg consumiu 5.450 kg de combustível no voo até sua propriedade no Havaí. Kylie Jenner fez um voo de 17 minutos por Los Angeles e virou meme. Taylor Swift viralizou por alugar seu jato particular para levá-la até o andar de cima de sua mansão (ok, talvez isso não seja verdade).

A aviação privada é um dos exemplos mais claros de desigualdade climática, onde os mais ricos poluem mais e enfrentam menos consequências. As emissões de um único voo da Gulfstream são suficientes para eliminar um ano de reciclagem ou o uso de painéis solares em dezenas de lares.

Até que haja restrições reais à aviação privada, continuaremos tendo esses momentos: tapetes vermelhos em Veneza, 100 jatos alinhados na pista e outro ciclo de notícias em que a pegada de carbono de um casamento poderia abastecer uma pequena cidade.

Claro, o grande dia de Bezos poderia ter sido manchete para quem estava lá. Mas revelou mais sobre quem realmente está impulsionando a crise climática e quem está sendo deixado para lidar com ela.