Acusada por convidada da SIC: “Fez-me sentir patética”

Quando teve conhecimento do processo dos Anjos contra Joana Marques, a “revolta” de Patrícia Porto “reacendeu-se”. Três anos depois de ter sido uma das “lesadas” da humorista, ainda diz sofrer com as consequências de ter sido protagonista de um episódio do programa da Rádio Renascença Extremamente Desagradável.
Tudo aconteceu em janeiro de 2022, quando marcou presença no programa Casa Feliz, da SIC, para falar sobre um problema que a afeta: fobia a pelos de animais. “Só as pessoas de casa é que sabiam o que se passava comigo. Eu tinha vergonha de contar. Não porque não aceitasse o que tinha. Entretanto, como através do Sistema Nacional de Saúde era muito complicado ter um psicólogo ou um psiquiatra, resolvi enviar um pedido de ajuda à SIC”, conta à NOVA GENTE. Pouco tempo depois, estava em frente a Diana Chaves e João Baião a contar a sua história. “Foi a primeira vez que falei da minha situação em público. Quis mostrar que estava com coragem para avançar e até para ajudar alguém que estivesse a passar pelo mesmo”.
O pior veio depois, quando Joana Marques aproveitou o seu testemunho para o seu programa de humor. “Um amigo ligou-me quando eu estava a arranjar-me para o trabalho e contou-me o que estava a passar na rádio. Eu nem sabia o que havia de fazer… A revolta era tanta. E a vergonha também. Os comentários que estavam a fazer em direto eram horríveis, arrasadores. Eu fiquei impotente. A partir daí, regredi imenso”.
Na altura, por se sentir “fragilizada” e por “questões financeiras”, decidiu não avançar para tribunal e acompanha agora a par e passo o caso dos Anjos. “Este julgamento para mim não é só dos Anjos, é o meu julgamento e o julgamento das pessoas todas que não têm dinheiro para avançar, ou que têm vergonha ou medo. Porque nós não somos os únicos lesados”, continua. “Eu ando extremamente nervosa com isto. Não consigo perceber. Como é que é permitido gozar com alguém para conseguir fazer humor? E isto eu não consigo entender. Quando eu soube do processo dos Anjos, enviei-lhes logo uma mensagem e contei-lhes a minha história. Afinal, alguém tem coragem e possibilidades de colocar esta senhora em tribunal. Eu fui humilhada e continuo a sofrer”, partilha.
Depois da polémica, Patrícia ficou também sem o apoio do psiquiatra. “Fui a esse psiquiatra arranjado pela SIC umas duas ou três vezes. Depois, deixou de me responder. Simplesmente desapareceu. O que me leva a crer é que, como ele não tinha um caso de sucesso para apresentar na televisão, não valia a pena continuar comigo”. Por isso, ficou ainda pior do que o que estava antes da ida ao programa.
Indignada, acabou por enviar um email a Joana Marques e à Renascença. “Eu exigia no mínimo um pedido de desculpas. Nem sequer sou figura pública. Responderam a dizer que não me humilharam nem falaram da doença, apenas analisaram a exposição num canal. Na verdade, tornaram-me ridícula”.
Agora, três anos depois, consegue notar algumas melhorias. “Quando fui ao psiquiatra pela primeira vez, ele disse-me que ainda não tinha conseguido perceber se eu tinha Perturbação Obsessivo-Compulsiva. Entretanto, agora, estou a ser seguida por um do Sistema Nacional de Saúde que me diz que eu tenho, de facto, um transtorno, mas que não é POC. Isto porque, ainda que com muito esforço, eu consigo tocar em animais”.
Patrícia, de 47 anos, quer ultrapassar a situação e espera que se faça justiça com os Anjos. “Fui-me muito abaixo com tudo isto e agora a revolta reacendeu-se. Se eu soubesse que isto me ia acontecer, tinha ficado no meu cantinho. Eu tinha vergonha de falar do meu caso, mas ganhei coragem e fui. Mas a Joana Marques fez-me sentir ainda mais patética. Deixou-me a sentir uma pessoa diferente, anormal, horrível. Já nem sabia como me comportar. Ainda tenho muita revolta. Enfim, estamos num estado democrático, mas a liberdade de expressão não é gozar com alguém. Há imensas pessoas que a defendem, mas eu não consigo. O humor da Joana Marques só existe para falar mal de alguém”.
Por fim, Patrícia deixa um elogio ao programa Tabu de Bruno Nogueira. “Adorei. Acho que foi excecional. Conseguiu mostrar a doença às pessoas de forma diferente”.
Texto: Vânia Nunes; Fotos: DR e Impala
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