O músico italiano que há 20 anos leva seu talento à Osesp

Foi exatamente há 20 anos que o violinista e maestro italiano Emmanuele Baldini viu seu talento abrir portas do outro lado do Oceano Atlântico e decidiu se arriscar no Brasil em um novo desafio: tornar-se spalla da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp).
Em entrevista à ANSA, o artista falou sobre sua chegada no país, destacou a importância de exercer diversas funções ao mesmo tempo e comparou a vida de músico clássico nas duas nações de sua vida.
Natural de Trieste, Baldini fez uma turnê por Argentina e Brasil aos 17 anos, uma experiência que deixou marcas em seu coração. Muitos anos depois, ele foi convidado para fazer duas semanas de teste e tocar na Osesp. Posteriormente, recebeu uma proposta para ficar de vez no país e, em março de 2005, fez as malas em busca de uma nova vida.
"Eu me sinto muito feliz, porque, apesar de continuar tendo muito orgulho das minhas raízes, do meu país, aquele que me viu nascer, me deu educação, todas as tradições musicais artísticas que a Itália tem, hoje em dia eu me sinto metade brasileiro e assumi essa grande nação", afirmou o artista, que se casou com uma brasileira e tem uma filha. "Sou muito mais brasileiro do que muitos brasileiros", garantiu.
Desde que desembarcou em São Paulo, Baldini lançou mais de 40 álbuns pelos mais diversos selos, alguns deles premiados, e tem dedicado seus esforços ao registro da música brasileira, especialmente de sonatas para violino.
Nos últimos cinco anos, fez parceria com o pianista e compositor André Mehmari, no álbum "Conversas com Bach", em torno da célebre "Chacona", de Bach. Já em abril passado, lançou "Violins of Osesp". Agora, a expectativa é para a gravação de um álbum com arranjos para dois violinos de Guilherme Pimenta para canções como "Beatriz", de Edu Lobo.
O italiano também atua como maestro há 10 anos e, entre 2017 e 2020, foi regente titular da Orquestra de Câmara de Valdivia, no Chile. Atualmente, dirige a Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí, é diretor musical da Orquestra Sinfônica de Ñuble, no Chile, e da Sphaera Mundi Orquestra, de Porto Alegre, além de produzir e apresentar o programa semanal "Contrastes", na Rádio Cultura FM, de São Paulo. Além, claro, de ser "spalla" da Osesp, ou seja, o responsável por transmitir suas orientações aos músicos, afinar a orquestra antes do início do concerto e executar os solos de violino.
Para Baldini, "essa variedade de funções" o tem ajudado a "ampliar os horizontes como músico" e nunca se cansar de trabalhar. "Quando cheguei ao Brasil, eu era um excelente violinista e líder de orquestra. Fui contratado por causa disso e, pouco a pouco, quis ampliar os horizontes, abrir os olhos e começar a enxergar a vida de músico de uma forma um pouco mais ampla. Aí comecei paralelamente a estudar regência e a dar aula", contou o artista, que também gosta do papel de comunicador para divulgar a arte musical.
"É uma diversificação que faz bem, que me dá oxigênio. Não me prendo em uma atividade só, mas me mantenho dentro do universo da música e da arte", declarou ele.
Para Baldini, o Brasil tem uma sociedade "fundamentalmente corajosa e ousada" para propor coisas novas, enquanto a Itália ostenta uma grande tradição artística que provoca uma "influência muito forte" no músico, ao mesmo tempo em que produz uma "certa mentalidade conservadora" e uma "falta de ousadia".
"Eu sinto que o Brasil é um enorme terreno fértil, onde dá para experimentar e arriscar. Se funciona, ótimo. Se não funciona, paciência, viramos a página e partimos para outra ideia", concluiu.
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