Capela inaugurada em Alcafache 40 anos após tragédia

Uma capela em homenagem aos emigrantes será inaugurada no domingo em Alcafache, junto à Linha da Beira Alta, no local onde, há 40 anos, ocorreu o maior acidente ferroviário de Portugal.
No dia 11 de setembro de 1985, num final de tarde, chocaram frontalmente na Linha da Beira Alta, entre Mangualde e Nelas, um Sud-Express com destino a Paris lotado de emigrantes e um Regional que seguia para Coimbra. O número exato de mortos permanece uma incógnita.
Há vários anos que existe um memorial de homenagem às vítimas e, nos últimos meses, foram feitas obras que deram “mais dignidade” ao local, avançou esta terça-feira à agência Lusa José Augusto Sá, que perdeu o pai e a irmã neste trágico acidente e lidera a comissão que tem organizado as homenagens anuais.
“Será inaugurada uma capelinha, com a imagem da Nossa Senhora dos Emigrantes”, contou Augusto Sá, explicando que se trata de uma imagem inspirada na imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, mas que, em vez da proa de um barco, tem uma esfera a simbolizar o globo terrestre.
A capela foi construída na lateral do memorial e permitirá o recolhimento necessário para orações pelas vítimas.
No local, foi também instalada uma placa toponímica com a inscrição “Travessa do 11 de Setembro de 1985 — Tragédia ferroviária” e aplicado o pavimento há muito pedido.
“Com muitos sentimentos à mistura, este ano tenho que bater palmas”, afirmou.
Augusto Sá contou que ainda pediu à CP que fosse colocada no local “uma carruagem para simbolizar o que se passou em Alcafache”, mas tal não foi possível atendendo à sua dimensão e aos custos que implicaria.
“A CP idealizou um protótipo de uma carroçaria, na qual assenta a carruagem e que pesa sete toneladas. Tudo aponta que no domingo já lá esteja colocado”, referiu.
Futuramente, acrescentou, haverá também, no local, informação que permita perceber a dimensão da tragédia.
Segundo Augusto Sá, estão confirmadas na cerimónia de domingo as presenças do general Ramalho Eanes, que era Presidente da República em 1985, do secretário de Estado das Comunidades, de autarcas e de representantes de corporações de bombeiros e de outras entidades.
No dia 11 de setembro de 1985, Augusto Sá perdeu o pai e a irmã, cujos corpos terão ficado carbonizados e nunca foram encontrados.
Sem campas onde se deslocar para “falar” com os familiares, todos os anos vive com intensidade a cerimónia de homenagem às vítimas de Alcafache, que vem organizando desde 2002.
Augusto Sá lembrou que o acidente se ficou a dever a erro humano e que o Sud-Express transportava “mais de 400 emigrantes” dos distritos de Viseu, Coimbra, Aveiro, Viana, Braga e Vila Real, que regressavam ao seu país de acolhimento depois de férias em Portugal.
O número exato de vítimas resultante do choque frontal nunca foi apurado. As estimativas feitas na altura por jornais, observadores oculares e outras fontes variavam entre 40 e 200 mortos.
Muitos corpos ficaram carbonizados e nunca foram identificados. Esses restos mortais foram colocados numa vala aberta no local onde hoje existe o memorial.
observador