Bolsa criada para "reforçar presença feminina nas artes" conta com dez finalistas

"Existe ainda, infelizmente, muita desigualdade no setor das artes entre géneros, ou seja as mulheres continuam ainda muito sub-representadas em galerias e museus", apontou Astrid Sauer, uma das coordenadoras do projeto contactada pela agência Lusa.
A bolsa, no valor de 27 mil euros, resulta de uma parceria entre o Freeport Lisboa Fashion Outlet e o Vila do Conde Porto Fashion Outlet, em parceria com a SOTA -- State of the Art e a Portugal Manual.
Astrid Sauer, diretora geral da SOTA, agência de marketing cultural, disse à Lusa que a bolsa inédita se dirige a mulheres residentes em Portugal, maiores de dezoito anos, cujo trabalho não seja representado por galerias.
O apoio abrange áreas como artes visuais, artesanato, 'design', escultura e têxtil, e, além de apoio financeiro, oferece formação com especialistas e uma estratégia de comunicação profissional.
Para esta edição foram recebidas 210 candidaturas e selecionadas dez concorrentes finalistas: Ana Leça (pintura, instalação, desenho), Beatriz Narciso (pintura), Elizabeth Prentis (performance, escultura, instalação), Flávia Costa (desenho), Ilfu-Soi Studio (Jéssica Ilfu-Soi, com escultura), Joana Dionísio (fotografia), Joana Paraíso (pintura, desenho), Patrícia Pettitt (fotografia), Vânia Reichartz (têxtil, instalação, escultura) e Vera Fonseka (pintura e colagem).
Aberto em maio, o concurso selecionou no final de junho dez finalistas que tiveram a oportunidade de participar em 'masterclasses' em várias áreas, nomeadamente comunicação e redes sociais, gestão e sustentabilidade financeira, identidade artística e apresentação profissional, para obterem formação no seu percurso.
Até 30 de setembro, todas as finalistas irão apresentar o seu projeto que será avaliado por um júri, e em meados de outubro será apurada a vencedora, que recebe 5.000 euros para produção da obra, e entrará em contacto com uma rede de profissionais do setor das artes, estando ainda prevista a realização de uma exposição do seu trabalho em 2026.
"Este é um projeto para artistas femininas emergentes com o objetivo muito preciso de fortalecer a presença feminina na arte e cultura, oferecendo apoio financeiro, mas também mentoria e visibilidade para as mulheres artistas em Portugal", salientou a responsável.
Astrid Sauer disse que em 2022 "apenas 9% do mercado mundial de leilões foi ocupado por obras de artistas femininas, e também há diferenças flagrantes nos preços das obras vendidas, já que o preço médio de venda é inferior em mais de 40% em relação aos artistas masculinos".
A coordenadora de origem austríaca, que reside em Portugal, reforçou ainda este contexto indicando que, "a nível mundial, entre 2008 e 2019, dos 197 mil milhões de obras de arte vendidas em leilões, as mulheres venderam apenas 2%".
"Estamos a falar de uma diferença tão grande que considerámos que tínhamos de fazer alguma coisa contra esta situação. Queremos ajudar e potenciar as mulheres artistas. E há muito talento em Portugal", sustentou a responsável pela coordenação da iniciativa, em conjunto com Filipa Belo, da Portugal Manual, e Catarina Tomaz, representante do Freeport Lisboa e Vila do Conde Porto Fashion Outlet.
Por outro lado, a organização convidou a artista plástica Joana Vasconcelos -- "uma das artistas mais bem sucedidas em Portugal" - para se associar à iniciativa, que se tornou embaixadora desta primeira edição.
Hoje, Joana Vasconcelos dirigirá uma 'masterclass' no âmbito do projeto.
"Joana Vasconcelos tem-nos ajudado muito na divulgação desta bolsa por ser uma prova viva de que o trabalho e o talento podem alcançar resultados. Como mulher artista, já disse publicamente que teve muitas dificuldades ao longo da carreira", apontou, conseguindo impulsionar o seu trabalho através de uma bolsa conquistada através da Fundação EDP.
Questionada pela Lusa sobre números nacionais desta desigualdade de género no setor da cultura, Astrid Sauer respondeu que, "infelizmente, em Portugal há poucas destas estatísticas no setor das artes, mas existem muitas a nível mundial e europeu que comprovam esta desigualdade".
No entanto, a responsável tem observado que "as novas gerações já mostram uma nova atitude para com as obras das artistas mulheres, e são muito menos conservadoras".
A organização da WAF espera continuar a realizar a bolsa anualmente e dar acompanhamento a todas as dez finalistas em várias áreas, de forma a "criar uma rede de contactos e ajuda" às mulheres artistas.
A bolsa está integrada na estratégia de sustentabilidade cultural da VIA Outlets, proprietária dos dois centros comerciais envolvidos, e pretende promover impacto positivo nas comunidades, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, segundo a organização.
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