Saúde mental: o plano dá pouco espaço à integração e à infância, mais financiamento para a equipe.


A Coordenação Nacional de Psicólogos e Diretores de Estruturas Complexas do Sistema Único de Saúde (CUT) participa do debate sobre o Plano Nacional de Ação em Saúde Mental, elaborado pela Comissão Especializada do Ministério da Saúde e aguarda aprovação na Conferência Estadual-Regional. O memorando resultante, com observações detalhadas, foi enviado aos diversos atores institucionais: a Comissão Técnica de Saúde Mental, o Ministro da Saúde e o Presidente da Conferência Estadual-Regional.
Valorizamos as premissas teóricas do modelo biopsicossocial e da abordagem “Saúde Única”, que vão além do reducionismo biomédico ao incluir o papel da comunidade e os contextos de vida nos quais o sofrimento surge e se desenvolve, exigindo intervenções não apenas multiprofissionais, mas também multissetoriais.
No entanto, destacamos o risco de que a transição para o conceito de "Saúde Mental Única" possa atribuir um papel central aos Departamentos de Saúde Mental e à psiquiatria, sem valorizar todas as outras áreas de intervenção e atores relacionados, que contribuem significativamente para a promoção, proteção e salvaguarda do bem "saúde".
Convencidos de que cada cidadão, independentemente da sua região, deve encontrar as melhores soluções em termos de prevenção e cuidado no domínio da saúde mental e psicológica, a redefinição do Plano representa uma oportunidade para uma revitalização significativa do sistema de serviços de saúde mental ao longo de todo o ciclo de vida, apoiada em modelos organizacionais coerentes que alcancem uma integração substancial com todos os setores e percursos de cuidado diferentes e complementares aos tradicionalmente dedicados à saúde mental. A criação de um Sistema Integrado de Serviços de Saúde Mental responde à crescente necessidade de gerir o sofrimento psicológico e mental com abordagens sistémicas que requerem a construção de redes, no seio dos serviços de saúde e integradas com os recursos comunitários, para implementar estratégias adequadas, não só para o diagnóstico e tratamento, mas sobretudo para a identificação precoce, a prevenção e o combate à exclusão e ao estigma.
Como Comitê de Coordenação, nos concentramos nos três primeiros capítulos do Plano. Em relação ao primeiro capítulo, "Saúde Mental e Caminhos de Promoção, Prevenção e Tratamento", enfatizamos a necessidade de que os caminhos de prevenção transcendam os limites dos Departamentos de Saúde Mental e Dependência Química, implementando políticas de prevenção e promoção da saúde por meio de uma abordagem intersetorial e planejamento compartilhado entre serviços, partes interessadas e atores sociais (escolas, locais de trabalho, centros comunitários, etc.). Acreditamos que os psicólogos da atenção primária devem estar alocados fora dos Departamentos de Saúde Mental e estabelecer uma colaboração estreita com clínicos gerais e pediatras nos Serviços Distritais, com a tarefa de combater a patologização do sofrimento. Os Serviços de Aconselhamento são mencionados apenas em conexão com a identificação precoce do sofrimento materno no contexto perinatal e em seu papel como "consultores" dos tribunais. Em vez disso, conforme estabelecido pela lei que os criou, eles são considerados a principal função do Serviço Nacional de Saúde (NHS) na promoção da saúde por meio de intervenções precoces em fatores de proteção. Além disso, o Plano negligencia a área de sofrimento mental relacionada a doenças orgânicas ou oncológicas graves, ou deficiências resultantes de traumas ou doenças graves. Portanto, considera-se totalmente inadequado atribuir intervenções de apoio psicológico aos Departamentos de Saúde Mental.
Em relação ao segundo capítulo, "Saúde Mental na Infância e Adolescência: Transição dos Serviços para a Infância e Adolescência para os Serviços para Adultos, Acesso e Continuidade do Cuidado", destacamos o grave erro linguístico ao nos referirmos à área da Saúde Mental do Desenvolvimento com o termo altamente redutor "Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência". Observamos uma tendência perigosa de renomear os serviços que atendem a faixa etária de 0 a 18 anos dessa forma, apesar do trabalho complexo e multiprofissional realizado nesses serviços, que tem pouca ou nenhuma conexão com a profissão médica. Isso representa o risco de uma gestão inadequada de todas as questões do desenvolvimento, particularmente aquelas relacionadas à explosão de sofrimento adolescente, que é tudo menos uma questão médica. Portanto, propomos o uso do termo "Saúde Mental do Desenvolvimento". Há uma grave escassez de leitos de atenção aguda para jovens, resultando em adolescentes com problemas agudos de saúde mental, que precisam ser cuidados em um ambiente protegido e adequado à sua idade, frequentemente sendo internados em unidades de diagnóstico e tratamento para adultos, o que agrava ainda mais o impacto traumático da crise. Isso exige uma reorganização capaz de garantir uma gestão de cuidados intensivos que respeite as especificidades da adolescência e aborde o sofrimento para além dos limites das intervenções farmacológicas, proporcionando intervenções integradas desde o momento da admissão e em estreita colaboração com os serviços locais relevantes. Dada a crescente escala do sofrimento juvenil, nas suas diversas formas (vícios, distúrbios alimentares, automutilação e tendências anticonservadoras, ansiedade e depressão, etc.), solicitamos que o Plano inclua a criação, em cada Autoridade Local de Saúde (ASL), de um serviço de baixo limiar, acedido não pelo tipo de doença, mas sim pela idade (14-25), em estreita coordenação com todos os serviços especializados existentes (Serviços para a Idade do Desenvolvimento, CSM, SerD, etc.). Estas instalações garantirão uma primeira consulta qualificada e uma avaliação aprofundada.
Em relação ao terceiro capítulo, "Saúde Mental para Detentos/Acusáveis e para Doentes Mentais que Cometeram Crimes sob Medidas de Segurança", concordamos com a necessidade de fortalecer a presença de Unidades de Saúde Mental nas prisões para apoiar detentos que sofrem de problemas de saúde mental. As questões críticas no atendimento a doentes mentais que cometeram crimes, após o fechamento legítimo dos Hospitais Psiquiátricos Judiciais, exigem uma separação clara das funções de tratamento das de supervisão e custódia. Isso requer a alteração da legislação pertinente, deixando os Serviços de Saúde Mental e seus funcionários como os únicos responsáveis pelo tratamento. Isso também significa superar o princípio subjacente à chamada "posição de garantia", descriminalizando a responsabilidade profissional dos profissionais de saúde que atendem infratores. Em relação ao manejo de casos de transtorno de personalidade antissocial grave, muitas vezes não imediatamente disponíveis para tratamento, propomos o desenvolvimento de módulos terapêuticos em ambientes de contenção, inclusive dentro das prisões. Também propomos a criação de instalações residenciais para infratores com psicopatologias graves que cooperem com o tratamento e possam ser acomodados em módulos de tratamento com 8 a 10 leitos.
Concluindo nossas observações, o Comitê de Coordenação enfatiza a necessidade de fortalecer significativamente os recursos humanos e as estruturas dedicadas a atender às necessidades de saúde psicológica dos cidadãos e das comunidades de forma estrutural. Reiteramos veementemente a proposta de alocar pelo menos 5% do fundo nacional de saúde anualmente para a saúde mental, conforme estabelecido – mas nunca implementado – em 2001 pela Conferência Unificada. Da mesma forma, deve-se encontrar cobertura adequada para os recursos necessários para as necessidades de saúde mental que estão fora do escopo dos Departamentos de Saúde Mental, como centros de aconselhamento, psicologia hospitalar, psicologia de primeiro nível, etc. Por fim, como Psicólogos Diretores de Instalações Complexas, apelamos à implementação das disposições da Lei nº 111/2001 em todas as regiões. 176 de 2020, que estabelece a "Função de Psicologia Corporativa", que poderia desempenhar o importante papel de coordenação entre a abordagem "Saúde Única" e os serviços especializados de segundo nível, em virtude de sua dimensão transversal aos diversos serviços do NHS.
*Porta-voz da Coordenação Nacional de Psicólogos Diretores de Estruturas Complexas do Serviço Nacional de Saúde
Notícias e insights sobre eventos políticos, econômicos e financeiros.
Inscrever-seilsole24ore