Empréstimo da Tapeçaria de Bayeux ao Museu Britânico: Emmanuel Macron ignora dois estudos que desaconselham o transporte da obra

Os relatos são categóricos: a transferência da Tapeçaria de Bayeux é fortemente desaconselhada . Isso não é motivo de preocupação para o chefe de Estado. No início de julho, Emmanuel Macron anunciou com grande alarde o empréstimo da tapeçaria ao Museu Britânico em Londres. Ela ficará exposta lá de setembro de 2026 a junho de 2027.

O bordado milenar de 70 metros de comprimento que retrata a conquista da Inglaterra por Guilherme da Normandia está prestes a cruzar o Canal da Mancha. "Uma iniciativa fantástica", saudou com entusiasmo o primeiro-ministro britânico Keir Starmer. O reino vem tentando trazer a tapeçaria há anos. Em 1953, para a coroação da Rainha Elizabeth II, e novamente em 1966 para celebrar o aniversário da Conquista Normanda da Inglaterra.

Embora a pressa do lado de Albion seja compreensível, do lado francês, a decisão de emprestar a obra parece ignorar todos os alertas emitidos pelo mundo cultural e outros curadores de arte. Um artigo publicado nesta quarta-feira, 27 de agosto, pelo jornal Le Monde revela o conteúdo de relatórios oficiais, todos os quais apresentam uma avaliação alarmante da pintura.

O primeiro, realizado em 2020 por oito restauradores contratados pela Direção Regional de Assuntos Culturais da Normandia (DRAC), relatou 24.000 manchas na tela, 16.445 vincos registrados e cerca de trinta rasgos. Em 2021, foi realizado um estudo preliminar para a restauração da tapeçaria. As conclusões foram claras: qualquer transporte de longa distância, superior a uma hora, é "fortemente desaconselhado" . Mover a tapeçaria exporia o bordado a "riscos adicionais devido às suas dimensões, estrutura e fragilidade mecânica ", afirma o relatório citado pelo diário.

Assim, quanto maior o trajeto, “maior o tempo de acúmulo de microalterações e maior o risco de surgirem alterações visíveis e irreversíveis”, observa o estudo, que também destaca a possibilidade de rompimento dos fios e alargamento dos rasgos.

Mais recentemente, em março de 2022, um novo estudo foi realizado para avaliar a viabilidade do transporte da obra para um museu em Londres. O trabalho está sendo liderado por um consórcio de restauradores multidisciplinares, apoiado por uma empresa especializada em transporte de arte. As conclusões não diferem de estudos anteriores: o transporte da Tapeçaria de Bayeux é fortemente desaconselhado. Segundo o consórcio, a maneira menos arriscada de transportar a obra é por via terrestre, mas essa técnica não é isenta de perigos.

No entanto, Emmanuel Macron não muda de rumo. A tapeçaria irá para a Inglaterra . "A Tapeçaria de Bayeux não é absolutamente intransportável", disse Philippe Bélaval, ex-assessor cultural do Palácio do Eliseu e agora representante de Emmanuel Macron para o empréstimo do famoso bordado, ao Le Monde . O custo da operação, que será inteiramente coberto pelos britânicos, promete ser colossal, na ordem de vários milhões de euros.

A sociedade civil não está particularmente entusiasmada com o transporte da obra de arte através do Canal da Mancha. Uma petição contra o empréstimo da tapeçaria, publicada online em 13 de julho, já reuniu mais de 60.000 assinaturas. Lançada por Didier Rykner, diretor editorial da revista online La Tribune de l'art, a petição "pede solenemente ao Presidente da República que abandone este projeto". "A Tapeçaria de Bayeux data do final do século XI. Portanto, tem quase um milênio de existência", afirma o site Change.org .

"Especialistas em tapeçaria, restauradores que trabalham nela e conservadores afirmam que há risco de rasgos e queda de material devido ao manuseio e às vibrações durante o transporte", ressalta Didier Rykner. " É inaceitável correr o risco de danificar esta obra absolutamente única."