Vício em jogos de azar: uma doença de rápido crescimento que afeta cada vez mais jovens, discutido na Rádio Aconcágua

Especialistas alertam para um aumento significativo de casos e para a falta de informação entre as famílias. A proliferação de plataformas de jogos online e a publicidade com figuras conhecidas complicam a situação.
Eles alertam que o vício em jogos de azar na infância e na adolescência é um vício que mascara a fragilidade com recompensas rápidas. (Freepik)
O vício em jogos de azar , ou jogo patológico, é uma doença reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que vem apresentando um aumento preocupante na sociedade, afetando inclusive crianças e pré-adolescentes. Este é o alerta de Manuel Benítez, formado em psicologia e coordenador do programa de tratamento da dependência química do Centro de Estudos, Assistência e Pesquisa em Neurociências (CESACIN).
"Estamos vendo um aumento significativo de casos. Muitas famílias nos procuram com pouquíssima informação sobre como lidar com esse tipo de problema", diz Benítez em entrevista à Rádio Aconcágua . O especialista enfatiza a importância de reconhecer o vício em jogos de azar como uma doença: "É uma doença como qualquer outra; é preciso ir diretamente a um profissional de saúde mental para que ele possa desenvolver uma estratégia terapêutica para lidar com esse tipo de problema."
Uma das principais contradições apontadas por Benítez é o dualismo com que o jogo é abordado. Embora haja alertas sobre seus riscos à saúde, sua promoção por meio de figuras públicas, como jogadores da seleção nacional, é constante. "Há uma enorme incongruência", diz o psicólogo, que atribui essa situação a um "sistema mais capitalista de venda de um site que, por um lado, causa muitos danos, mas, se controlado, gera entretenimento".
É essencial diferenciar entre jogo casual e vício. "Nem todo mundo que joga online é viciado", esclarece Benítez, traçando um paralelo com o cassino: "É como pensar que todo mundo que vai ao cassino é viciado em jogos de azar." A chave, explica ele, está na dependência física e emocional desse comportamento .
O vício em jogos de azar não afeta apenas a saúde mental do indivíduo, mas frequentemente traz consigo outros problemas sérios. "Quando [o vício] começa, está ligado a um crime, porque as pessoas começam a roubar ou a pedir dinheiro emprestado e sabem que não conseguirão pagar, ou começam a roubar idosos ou a usar o dinheiro que recebem para viver, para jogar", explica Benítez. Isso, segundo o especialista, está relacionado ao impulso de não conseguir parar , levando a uma "personalidade mais manipuladora, onde podem cometer qualquer tipo de crime para alcançar esse comportamento ou ingerir algum tipo de substância".
A situação é especialmente preocupante para crianças e pré-adolescentes, cuja idade de início é cada vez menor. "Infelizmente, Pablo, sim. E estamos vendo crianças de até 10 anos começando a jogar online", revela Benítez. A facilidade de acesso com um único clique, somada à imaturidade do cérebro da criança, que não está desenvolvido para lidar com a quantidade de estímulos neuronais, gera diversos problemas. "Começa com toda uma questão de ritmos circadianos, e as crianças frequentemente começam a apresentar distúrbios do sono", o que, por sua vez, impacta o desempenho acadêmico e o desenvolvimento geral.
Um desafio para as famílias e uma abordagem terapêutica abrangenteO CESACIN, centro onde Benítez trabalha, está enfrentando alta demanda por atendimento. "Admitimos pacientes no programa intensivo duas vezes por semana e estamos atendendo sete pacientes por internação, o que significa que atendemos quatorze pacientes que querem entrar na unidade, e temos uma lista de espera", explica ele.
Em relação aos pais, Benítez observa uma realidade complexa, marcada por demandas trabalhistas e financeiras que muitas vezes afastam o tempo da parentalidade. Isso cria "pais mais distantes, com limites completamente confusos ou inconsistentes", o que pode contribuir para a formação de personalidades vulneráveis a esse tipo de dependência. A especialista enfatiza a importância da conscientização sobre a doença , tanto do paciente quanto de seu ambiente familiar.
A abordagem terapêutica no CESACIN baseia-se em uma avaliação diagnóstica para compreender o funcionamento do paciente e sua rede de apoio. Eles trabalham com psicoterapia comportamental e uma abordagem interdisciplinar que inclui assistente social e psiquiatra. "Temos um programa de abstinência zero", diz Benítez, enfatizando a necessidade de apoio médico para lidar com a abstinência física e emocional.
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